À Deus Kenneth Hagin

Morre o precursor da Palavra da Fé e fundador do Centro de Treinamento Bíblico Rhema

Avivalistas, evangelistas, carismáticos. Pentecostais, neopentecostais, povo da fé. Os homens que se levantaram com uma mensagem surpreendente na Igreja do Senhor Jesus Cristo desde John Wesley, o fundador da igreja metodista, não foram muitos, mas marcaram sobremaneira a história da humanidade não só no âmbito religioso, mas também na questão cultural. Entre estes esteve até hoje, dia 16 de setembro, o reverendo Kenneth E. Hagin, fundador do Centro de Treinamento Bíblico Rhema e uma das maiores insígnias da fé cristã.


Hagin, um texano nascido em McKinney, uma pequena cidade que tem hoje pouco mais de 60 mil habitantes. Era um menino franzino e doente, que não rendia bem na escola. De temperamento forte, era temido pelas demais crianças, apesar da aparência frágil, pois seus ataques nas briguinhas pueris costumavam ser bem mais veementes que o normal. Até o valentão do colégio sabia quem era Hagin, pois não custou a entender que brigar com ele não era bom negócio, depois que levou uma paulada na cabeça. O irmão mais velho também passou a preferir a paz depois que levou uma martelada na testa e ficou inconsciente por 40 minutos. “Defendia-me desta maneira”, justificava Hagin.

Mesmo com as debilidades, a família batista tradicional dava-se por satisfeita em vê-lo vivo. Para quem nasceu prematuramente, minúsculo e morto, segundo a afirmação do médico que fez o parto, estar vivo já era significante. Do nascimento complicado, o bebê só despertou após 40 minutos inerte, e tomou leite dado pela avó, senhora Drake, com ajuda de um conta gotas.

A fragilidade chegou ao cume depois que o garoto completou 15 anos. Foi desenganado por cinco médicos, inclusive alguns famosos e reconhecidos como bons cardiologistas. Segundo a medicina, uma doença degenerativa no coração mataria Hagin antes que ele completasse 16 anos. O processo de morte seguiu acelerado conforme as previsões médicas, e ele foi abatido a ponto de não conseguir estender a mão até a cabeceira da cama, a qual estava confinado.

Seria o leito de morte a linha de partida para o primeiro acontecimento sobrenatural na vida do menino do Texas: a visão do inferno. Na verdade, revelações do inferno e pessoas que afirmou ter ido lá não são poucas entre os cristãos, mas Hagin afirma ter morrido antes de ser atraído às profundezas. E morrido não uma vez, mas três vezes. Em três momentos teve plena consciência da morte tragando sua vida. Ao longo das paginas de vários dos mais de 100 títulos de livros que escreveu (na verdade, teve pregações compiladas), Hagin narra repetidamente os acontecimentos que presenciou na escuridão do inferno, onde viu horrores que ele disse não poder comparar com nada existente no mundo físico.

Hagin foi atraído de volta para o corpo, impulsionando por uma voz de maior autoridade, que o arrancou das mãos de um espírito maligno e arrebatou-o quando já estava a ponto de penetrar nas chamas.

A experiência vivida pelo rapaz, que tinha aceitado a Jesus Cristo pela fé havia pouco tempo, mudou sua vida e começou a produzir uma história de convicção cristã que nunca será esquecida. Seu comportamento foi profundamente afetado depois do regresso ao mundo dos vivos, e uma de suas principais doutrinas: a que diz ser o homem um ser em três dimensões, espírito, alma e corpo, e não apenas alma e corpo, viria a ser estabelecida no decorrer de seu ministério, com influencia notável de pregadores como E.W. Kenyon, o polêmico antecessor de Hagin, acusado de ser anti-bíblico, tanto ou mais do que Hagin seria.

 a ida ao inferno foi chave para suas crenças sobre a salvação e nortes sobre o mundo espiritual, a cura milagrosa da enfermidade que o acometera tornou-se o ponto decisivo para a sublevação da palavra da fé: o conjunto de ensinamentos bíblicos que afirma o direito à cura divina, prosperidade financeira, autoridade sobre Satanás e seus enviados e a capacidade de manifestar as bênçãos de Deus por meio da confissão da fé para aqueles que nasceram de novo pela fé em Cristo.




A doutrina da confissão de fé, provavelmente a que mais irrita os críticos, elucidou-se para Hagin mediante a forma como ele foi curado. A saga de Hagin rumo a cura é uma história impressionante de fé e coragem, baseada no versículo 23 e 24 do capítulo 11 do livro de Marcos: Em verdade vos digo que se alguém disse a este monte: ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que lhe fará o que diz, lhe será feito. Por isso vos digo que tudo o que pedirdes em oração, crede que recebestes, e será convosco.

Mesmo tendo escapado da morte, por causa das orações da avó, segundo afirmava, Hagin continuou debilitado e fraco, piorando progressivamente. Como não podia sair da cama, e agora estava tocado pela realidade do mundo extra-físico, resolveu estudar a Bíblia a fundo. Quando se deparou com os versículos de Marcos, não teve dúvidas: orou, creu que recebeu a cura e pensou: “Se a Bíblia diz que estou curado, então o que faço nesta cama”. Tentou se mexer e não conseguiu, pois a parte inferior de seu corpo há tempos estava paralizada. Então, num gesto ousado, pegou as pernas e jogou-as para fora da cama. Entre formigamentos e quedas, equilibrou-se, e ficou totalmente curado, com uma saúde dessas que chamam “de ferro”.

A funcionalidade da fé despertou o desejo de servir a Deus. Marcos 11.23,24 passou a ser o versículo emblemático de sua vida e ministério, e Hagin foi criticado e perseguido, mas nunca arredou uma palha sobre o que creu e pregou. “Há pessoas que pensam que fui eu que escrevi Marcos 11. 24,24”. Brincava Hagin. Durante mais de 60 anos de ministério, ele sempre foi bombardeado com palavras de pregadores contrários aos seus ensinos. Alguns destes críticos ficaram famosos às custas da acoima tenaz contra o profeta da fé. Hagin nem assim aceitou brigar com outros que professam a fé em Cristo, mas permaneceu firme na doutrina e no amor.

Os rinhentos contestadores dizem que Hagin ensinava apenas o que ouviu de E.W. Kenyon, mas ele afirmava não ser tão discípulo de Kenyon quanto costumam falar. Ele dizia que muitas vezes ensinava igual a Kenyon por mera coincidência. “Temos a mesma Bíblia”, justificava.

Contestado, porém amado, Hagin fez milhares de seguidores, mas nem todos andam em linha com seus ensinamentos. Por várias vezes teve que corrigir pregadores conhecidos, que se desviavam da doutrina mesmo afirmando fidelidade ao hagianismo.

A questão da guerra espiritual e o exagero sobre a doutrina da prosperidade são exemplos de casos que Hagin dedicou-se a combater. Seu livro The Midas Touch (O Toque de Midas), de 234 páginas, é uma obra dedicada a desmentir erros doutrinários na questão financeira.

Ministério

O ministério do homem da fé, no entanto, começou numa igreja tradicional, batista. Ao 21 anos, casou com Oretha, uma mulher de notável discrição e monumental apoio ao ministério e vida pessoal de Hagin. Em 1937 ingressou no ciclo pentecostal, como ministro da Assembléia de Deus. Ficou com os pentecostais até 1949, quando começou a carreira de ministro itinerante.

Nos fervorosos anos 50, quando a vários avivalistas insurgiram nos EUA, organizados em um ciclo denominado A Voz da Cura e ministrando principalmente em tendas móveis, Hagin aparecia como um dos nomes mais conhecidos. Aqueles foram anos de euforia espiritual por causa da abundancia de manifestação dos dons dos Espírito Santo, como curas e profecias. Sempre pregando a fé, Hagin desafiou o costume dos evangelistas da época e não comprou uma tenda para suas campanhas evangelísticas, afirmando com simplicidade que não tinha paz no espírito quando a isso.

Já nas décadas de 50 e 60, o reverendo era cuidadoso em manter-se em linha com os ensinos da Bíblia, não cedendo aos assédios da fama e outros benefícios que a pregação por conveniência poderia trazer-lhe. Quando pressionado por colegas do ministério a tomar posições contrárias às suas convicções, respondia: “Se continuarem como estão, colocando os dons à frente da Palavra, verei muitos de vocês mortos e fora do ministério, e eu ainda estarei pregando”. Muitos daqueles homens não deram ouvidos, e aconteceu com eles conforme as palavras de Hagin.

O homem tão atacado por ser anti-bíblico era um defensor incansável da vida segundo os princípios bíblicos. Em sua última mensagem para um grande público, no acampamento 2003, em julho, na cidade de Tulsa, Estado de Oklahoma, onde viveu por mais de 30 anos, Hagin falou sobre o poder da Palavra de Deus, exortou o público a não desistir de ensinar a Palavra, e disse que não é a capacidade humana que faz os corações se converterem a Deus, mas o poder da Palavra.

Como anunciador incansável da fé, do amor, da intimidade com Deus, das bênçãos de Deus, de uma vida vitoriosa sobre a Terra e da santidade, o reverendo formou uma multidão incalculável de discípulos. A partir de 1974, quando comprou um terreno de 50 acres e fundou o Centro de Treinamento Bíblico Rhema, em Tulsa, o mundo conheceu uma corrente de ensinos bíblicos com elos tão bem entrelaçados e fortes que consiste com mais estabilidade a cada ano. Desde então, há escolas Rhema nos cinco continentes do globo. São 23 estabelecimentos, sendo que 12 deles estão no Brasil.

As palavras ministradas pelo homem acusado de formar seitas e pregar heresias libertam pessoas do cativeiro do pecado e da religiosidade nos lugares mais remotos da Terra, em países fechados ao evangelho, com abrangência cada vez maior. Um testemunho do missionário britânico Simon Potter, graduado no Rhema EUA, dá conta da força da palavra da fé, ou palavra revelada, como ficou conhecida a doutrina de Hagin. Simon disse que visitava um pastor num país que persegue cristão, quando este o conduziu até uma estante, retirou um livro que estava escondido e perguntou hesitante: “O que você acha deste livro?”, e apresentou um exemplar de Como Ser Guiado Pelo Espírito, livro de Hagin. Ante a aprovação de Simon, o pastor declarou: “Olha, este livro tem mudado a minha vida”.

Kenneth Hagin teve uma carreira brilhante em Deus. Através de suas mãos, Deus pôde curar e batizar com o Espírito Santo. Suas palavras apresentaram a salvação em cristo para centenas de milhares, mas seu legado, construído ao longo de quase setenta anos de vida provada e aprovada segundo a Palavra de Deus, é mais do que lembranças de dias em que a fé de um homem dedicado a Deus fez a diferença no mundo. Trata-se do permeio do espírito da fé nas lacunas da Igreja, hoje transformada e transtornada (no sentido bíblico-neotestamentário da palavra) com o mesmo impulso santo dos dias dos Apóstolos Pedro e Paulo.

Seja qual for o adjetivo dado a Kenneth Hagin, o fato é que foi para a eternidade um homem que será eterno também neste mundo, por sua obra de fé; por anunciar e viver o amor incondicional de Deus, que, segundo a Bíblia, faz a fé operar; por mostrar aos cristãos que eles não precisam mais viver sob a consciência de pecado; por apresentar a cura, a prosperidade que é mais do que dinheiro e bens, e a autoridade delegada por Jesus para dominar o Diabo; por acender a chama e mostrar a divisão entre as vocações ministeriais, bem como as três dimensões do ser humano; Por chamar a atenção a vida de Deus dentro dos que crêem e demonstrar para necessidade do batismo no Espírito Santo.

A autenticidade destes ensinos tão combatidos por alguns teólogos foi comprovada na vida de Hagin, e de discípulos conhecidos e desconhecidos. Do pregador de renome ao crente simples curado de câncer, ou que teve o casamento restaurado. Não há dúvida de que todas estas coisas continuarão sendo confirmados na existência dos que ousarem tomar posse do espírito que declara: Cri, por isso falei.


http://www.verbodavida.org.br/kh/reportagem.asp

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